quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Plantar um livro, escrever um filho e cultivar um lírio!


*Orlando Costa - Foto: Genilson Coutinho


Pai, filho e o próprio Orlando Costa em uma demonstração de unidade familiar através da música. Viva ao samba da velha Bahia, que fez com que Orlandinho, se valendo do saudosismo, levasse ao palco seu pai e seu filho para exibir uma canção tocada na velha cidade baixa, da São Salvador. Mostraram na prática que, realmente, muitas vezes mais importante do que heranças genéticas são as influências culturais exercidas pelos pais. Estes transmitem crenças morais e religiosas. Há ainda valores passados inconscientemente e capturadas de forma não tão direta, como o gosto pelo batuque, pela boemia, pela poesia. Todas essas coisas estão presentes em um mundo constituído por coisas simples e ao mesmo tempo nutridas de grande valor sentimental.

De certo, é muito simbólico para um artista renomado, já tendo tocado com grandes nomes do universo emipebístico, ter seu pai(como um mestre) e seu filho(como um discípulo) acompanhando-o em um número musical apresentado para uma bela plateia.

Creio que plantar um livro, escrever um filho e cultivar um lírio são experiências que parecem representar algum sentido para a existência humana. “Existirmos, a que será que se destina?”. O grande percussionista, através de sucessivos gestos em palco, mostrou ter amor e consciência das coisas para ele importantes: ser pai e também filho.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Delicioso decote!

Hesitei em escrever sobre ela, mas não tive êxito. A visão do delicioso decote, de alguém que não estaria lá, realmente ficou gravado em minha mente. Mesmo eu tendo fingido não notar, forjando uma distração, ela, despretensiosamente, ou não, conseguiu chamar minha atenção. O mundo feminino é realmente interessante e surpreendente. Mostrando a nuca ou passando a mão no cabelo, elas sabem se insinuar.

Com essa imagem, que até agora está em minha mente, lembrei de uma frase de um velho poeta (que usa a música como mídia para transmitir sua poesia) que dizia serem os peitos a parte do corpo de uma mulher que lhe chamava mais atenção. A bunda é bonita também. Mas o peito, tem aquela coisa assim! Eles lhe afrontam!

Concordo com ele e para mim eles transmitem também o ar de poder. Nem sempre de fato o têm. Mas, certamente demostram uma determinação digna de quem sai num sábado à noite em busca de emoção. Salve o decote feminino!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A dor ao mar

Ela sabe olhar, calar e amar
Sabe sonhar
Ela sabe buscar e reter
Se perder e se achar

Ela sabe amar e, se precisar, esperar
Vive a caminhar
Ela caminha na manhã a querer
Seu amor que tarda a chegar

Ela espera, mas não cansa de amar
Ela ama, sem cansar de esperar
Em seu peito uma pedra não há
Em seu peito o amor, e a dor ao mar

(Berêu)

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cozer e casar, a arte de saber dosar



A dose é o que difere remédio de veneno. Então, na arte de viver, não podemos valer-nos do radicalismo. Uma vez, assistindo o documentário Doces Bárbaros, escutei e vi Maria Bethânia dizer que não gosta dessas coisas de “levantar bandeira” para defender radicalmente uma ou outra ideia, acho que ela foi perguntada sobre algo em relação ao movimento feminista. Devemos ter cuidado com nossas verdades.

Assim, um belo prato de moqueca para não fazer mal tem que estar bem preparado. Feito com bom camarão fresco, azeite de dendê e outras miudezas. Mas, cada ingrediente deve ser posto na medida certa, para garantir aroma e sabor e cair bem. Esperem, vamos à saideira! Depois dessa frase foram mais três e muita conversa. Foi dessa forma que conheci um jovem senhor com seus prováveis cinquenta ou mais anos. Dono do Fundo de Quintal, na praia de Imbassai no litoral norte da Bahia, que nos preparou uma moqueca e filé que são “sucesso”. Este nobre senhor, casado pela sétima vez com uma mulher de personalidade forte, nos presenteou com histórias interessantes. Ele falou sobre seus conceitos de energia humana e demonstrou ser possível reinventar a vida ao contar ter se aposentado, se separado pela sexta vez e se mudado para a linha verde. “Não quero mais saber de casamento”, pensou ele ao se mudar para Imbassai e decidir abrir um restaurante. Mas acabou se rendendo à outra mulher. Ele administra a cozinha e ela administra ele. Simplesmente um cozinheiro que parece saber temperar bem não apenas moquecas e filés, mas certamente seus amores e sua vida.

Em um mundo de vida ligeira, onde as pessoas não aprendem a amar, é importante se deparar com seres que não temem a mudança. Que sabem quando uma relação já não lhe faz tão bem, quando a dose excessiva transforma o amor em outra coisa e ele deixa de fazer bem. Desconstrua seu amor, se preciso for, mas não se furte de edificar outro maior e muito mais colorido.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Gabriela, um café com cachaça, cravo e canela



Cuidado pra você não ficar a vida toda esperando. Esperando o sol, esperando o mar, esperando, esperando. Saia da rotina cama-trabalho-cansaço-cama. O cotidiano diário do dia-a-dia nos impõe uma monotonia incrível. Crie intervalos para abrigar momentos bons. Tire uma folga, usando aquelas horas-extras, ou aquele banco de horas, e vá ver o mar. Se for num dia ensolarado, bom. Se for no Porto da Barra, melhor ainda. Peça uma água de côco, assente-se na areia e aprecie a paisagem com belas curvas femininas, mar e pôr-do-sol. Se receber um convite pra ir a um novo lugar, não hesite, vá!

Poderá ser levado a um Cafélier, conhecer um Zeus, feito de café e cachaça, e se permitir pensar em coisas boas e até sonhar. Se entre amigos estiver, exercite o filosofar romântico que só os sentimentais são capazes. Se estiver com alguém que ama, beije. Se não puder beijar, apenas fique a olhar. Olhar o porto, a baía, o mar. Continue a pensar em coisas boas, enquanto tenta descoisificar outras. Chame de novo Jô e peça a ela que lhe traga Gabriela, beije a xícara e sinta o gosto do café com cachaça, cravo e canela. Tente sempre adoçar a vida, pois esta pode não lhe dar o tempo que julga necessário para aprender a amar e ser feliz.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O vagabundo feliz



É interessante perceber no gargalhar de uma gente modesta a busca constante pelo estado de felicidade. Numa curta viagem percebe-se a vastidão de objetivos de vida que existem. A cidade do recôncavo, que outrora abrigara índios da tribo marag-gyp, abriga hoje, especialmente, duas figuras notáveis na paisagem. Uma se trata de uma mulher, casada com um capitão, mãe de um filho e, de certo, devota de Santa Bárbara ou filha de Iansã, como queiram. Outra é um psicodélico hippie que se apresentou, com olhos abrasados, como maluco beleza. A mulher dizia ter terrenos que, de tão extensos iam até “os inferno”. Dona de uma pousada há mais de trinta anos, repetia que não se esquentava com muita coisa, pois “se eu morrer tudo fica aí”, dizia ela. Já o maluco dizia ter largado tudo pela liberdade. Está de férias há quinze anos. Como isso é possível?! Esse rapaz, aparentando não mais que quarenta anos, uma hora disse morar em Paris, noutra em Machu Pichu. Mas o certo mesmo é que, com aquele olhar entorpecido, ele parecia poder viajar à qualquer lugar que quisesse, quando quisesse.

Dessas duas pessoas antagônicas, consegui ver a representação real de que todos têm o poder de mudar suas vidas, ou de continuar vivendo a vida a eles imposta pelas circustâncias. Desde a poderosa, work-a-holic do recôncavo, que não parece ter o poder de mudar a própria vida, ao maluco beleza, que representa exatamente o oposto, estando totalmente desapegado das coisas do mundo. Me parece que devemos estar atentos as nossas emoções positivas, identificar as coisas que as provocam e tentar repeti-las o máximo de vezes possíveis em sua vida.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Panis et circences ou pânico no circo!



Sempre acho que uma coisa quer se traduzir outra, o que não ocorre. Melhor seria se o fosse. Assim, um circo ameaçado pelo poder de mudança. Ou de ter que se destruir para se refazer. Bom seria se todos pudessem ser o palhaço que sonham, não o que é empurrado a ser. "Mas as pessoas na sala de jantar/São ocupadas em nascer e morrer". Gosto dos mitos como Shiva. Tão significante como uma fênix que inusitadamente surge em uma manhã acinzentada e poética numa fabulosa visão. Seria bom se fôssemos deuses capazes de fazer florescer o jardim que projetamos em nossas mentes-arquitetas do amor.

Todos deveriam aprender a nascer e morrer, quando necessário fosse. Fazendo-o primeiro pelas mãos da lindíssima nossa senhora da boa morte e em segundo pelos braços da irmandade da boa vida, onde a amizade é a pedra fundamental.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Passou, sorriu e partiu para sempre

A certeza de ter amado com consciência, de não guardar mágoas foi o que garantiu que a perda não fosse maior do que todo o amor dos anos de convivência. Anos que trouxeram descobertas compartilhadas, ensinamentos pelos exemplos de inteligência demonstrada continuamente. O perdão é algo necessário no dia-a-dia. Precisamos trazer nossos corações vazios de ressentimentos e ódios. Pois, por mais que pareçam se justificar, tais emoções devem ser realmente destruídas.

A próxima hora ou o próximo dia poderá não chegar para que você ou para o outro, tirando a oportunidade de zerar a reza e deixar um pedido de desculpa não pedido guardado em seu peito. Você poderá gritar ao céu, mas a leveza que traz o desculpar ou o ser desculpado não poderá ser mais sentida.

A felicidade de ter transmitido todo o amor nos anos que se passaram superou a gigantesca dor da ausência que ficou para sempre. É fundamental a construção de momentos felizes. Ainda que efemeramente, a felicidade trazida pelo amor compensa.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Eu, músico!

Você fica a vida toda procurando arte. Um dia ela te encontra. Você um dia atravessa o ritmo, noutro ritma sua própria canção. Canaliza para as mãos toda emoção que vem, se valendo da técnica que desenvolve. Respira diafragmaticamente e toca feito músico de verdade. Toca pandeiro e canta e não atravessa o samba. Instala um metrônomo no coração. De médios, graves e agudos simultaneados constrói melodia com som de percussão. Um dia, enfim, você consegue sair de ridículo a criativo com direito a elogio. É o seu novo parto!

Creio que não devemos aceitar os limites criativos que a sociedade tenta nos colocar. Se você é uma moça capaz de perceber que o céu não oscila apenas entre o azul e preto e o cinza, mas que pode ser vermelho. Então cante, atue, dance, mas, principalmente, ame o que quererá fazer. Não se furte de viver e seguir sua intuição.

domingo, 25 de julho de 2010

Um rio de cobras

Em um sábado à noite incomum, chato e chuvoso, precisei ir presenciar a mais um amigo realizar o juramento, em frente a um sacerdote católico e meio a uma capela lotada, de amor e respeito a sua amada. Juntos até que a morte os separe. Mais uma vez, chegava atrasado em uma cerimônia de casamento. Na verdade, a parte mais significativa é a do juramento e essa nunca perco. Como um dos ritos de passagem herdados dos costumes ancestrais, o casamento ainda permanece como um dos que ainda são “cobrados” pela sociedade como uma espécie de atestado de indivíduo socialmente bem sucedido. Depois da primeira menstruação ou da caça do primeiro animal para alimentar a tribo, entendo que atualmente isso seria como o primeiro salário ganho, o casamento seja talvez a grande transição. Como um curioso que também aprende através das experiências dos outros, sempre que sondo junto à colegas casados sinto que poucos, pouquíssimos, se empolgam com a vida de casado. Um amigo certa vez falou que seria normal as pessoas casarem-se e depois se arrependerem. Estranho,não?! Mas vou parar por aqui com essa assunto sobre o qual não entendo nada.

O real motivo dessa nova publicação foi um sonho bem louco que tive nessa mesma noite na qual assisti ao rito de meu amigo. Talvez por causa do novo momento, onde estou diante dos novos horizontes e desse momento de retomada pessoal, no qual estou evoluindo na relação com a música e nas práticas esportivas. Eu sei que, de repente, estava em um lugar, talvez um imenso zoológico ou reserva ambiental, que tinha um lago ou rio, com dezenas de serpentes, cobras, de todos os tipos. Havia alguém comigo e eu lhe disse: vou atravessar. Não sei se me confiando na certa intimidade que adquiri com a piscina, através do nado. O fato é que decidi atravessar o rio, ou lago, como quem desafiava, num tiro de 50 metros, não o tempo, mas sim as serpentes. O mais pitoresco dessa história foi uma gata negra de meu convívio, cuja a beleza me alegra, que aparecia na minha chegada, vitoriosa, à outra margem me oferendo chocolate, enquanto eu lhe mostrava que apenas duas serpentes haviam me atingido. Lembro de ter ficado preocupado em verificar se teriam sido serpentes peçonhentas. Mas o fato de eu ter conseguido atravessar me chamava muito mais atenção.

Realmente vou precisar de um interpretador de sonho maluco pra me dizer o que isso quer dizer. Em uma consulta prévia a um analista junguiano, parece que o sonho talvez simbolizasse uma certa fase de transição. Mas é isso, se alguém ai tiver ideia por favor me fale.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Burguesinho apaixonado: uma homenagem à uma florzinha apaixonada!

Ele achou incrível que aquela criatura parecesse-lhe tão familiar e iluminada. A conheceu em um lugar onde não deveria estar naquele dia. Assistindo a uma chata partida do Brasil pela Copa da África do Sul, completamente desinteressado em estar lá ele foi apenas por motivo de amizade. Percebeu uma mulher com brilho diferente no olhar e então, depois de vários minutos e chops, tomou iniciativa e foi pedir-lhe o número do seu telefone. O primeiro encontro foi adiado, por uma, talvez duas vezes. Mas, finalmente, aconteceu. Ele sem saber o que aconteceria foi ao encontro. Depois de horas de conversa, pareciam que se conheciam há muito tempo. Uma conexão massa, bacana, e muito surpreendente.

"O amor me pegou. E eu não descanso enquanto não pegar. Aquela criatura." (Caetano)

Desculpem se fica chato, mas nas histórias que capturo e conto sempre faço um link imediato com alguma canção. Como sou pobre em diversidade de referências, acaba vindo sempre algum tropicalista...rs. Mas não se irritem comigo.

Voltando a novela (rsrs), parece que as coisas se tornam mais legais quando não são tão fáceis. Hà quem desgoste da dificuldade, mas ela serve as vezes para testar o grau de interesse ou vontade em relação a algum objetivo. No caso do nosso pequeno burguês, o que está em questão é uma paixão arrebatadora, ou o achado sentimental da década. Mas o nosso jovem pecou, segundo a cartilha masculina, ao escancarar as portas do seu, até então, desocupado coração.

Teve que ouvir coisas como: "Você está mais acelerado!" ou "Acho que você é a pessoa certa na hora errada"(kkk). Clichês à parte, as frases teriam sido adequadamente utilizadas. Mas nosso pequeno burguês, quem diria, resolveu ignorar "o fora" e curtir a paixão. Resolveu continuar dando atenção a sua amada, independentemente de tê-la de fato ou não, com contatos remotos através de telefonemas e mensagens instantâneas. Seria esse sentimento uma espécie de paixão altruista ou um amor platônico? Bom, eu não sei! Mas ele resolveu curtir a emoção sem se preocupar com uma retribuição. Afinal, "Cesteiro que faz um cesto, faz um cento." Sendo assim nada impede que ele possa se apaioxonar mais um zilhão de vezes e que um dia seja retribuido pelo universo, caso sua nova paixão não seja retribuida.

Como eu sou um observador que observa bastante, percebi que nessa coisa de gostar, ou sei lá o que, as pessoas buscam sempre a posse do outro. Mas, talvez o equívoco seja justamente esse. Não podemos deter ninguém para uso exclusivo. Não estou com isso querendo me remeter algo como a poligamia, por exemplo. Digo, apenas, que a exclusividade deve ser natural. Não deveríamos nos relacionar exclusivamente com alguém por achar que temos obrigação, mas, primeiramente, por respeitar a pessoa e se sentir bem ao lado dela. Essa reflexão deixa um gancho sobre o assunto casamento, que tratarei quando for oportuno, pois é bem polêmico.

Então é isso, esse foi o meu blablablá de hoje!!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O analista de pessoas e o seu café filosófico

O primeiro dia da semana(não o primeiro dia comercial) tinha tudo para terminar como mais um, a base de filosofia e quitutes, no Rio Vermelho. Mas, depois de duas ou três horas de analises existenciais e conjecturas sentimentais, surgiu ou ressurgiu a ideia de realizar uma espécie de café filosófico, onde haveria de haver tudo, menos o próprio café. O interessante é que antes do ressurgimento da ideia o meu amigo analista de pessoas, já um tanto cansado, quase conseguindo falar outra “língua”, discorreu um pouco sobre literatura, pois eu havia lhe comentado sobre o livro que estou a ler, sempre após deitar, para convidar o sono que sempre me cansa de tanto esperar. O Verdade Tropical se mostra familiar para mim, pois acompanho o seu autor de longas datas, desde que descobri ser dele uma música que repetia várias vezes, na abertura de um seriado da televisão Globo, a pergunta “por que não?” percebi que não se tratava apenas de uma personalidade, a qual ouvia falar desde que “me entendia por gente”. Eu era criança mas a frase me parecia ter um cunho de rebeldia e eu gostei. Aproveitando minha retomada a esta mídia, com esta nova publicação, quero registrar que minha relação com a literatura “transversal” tem se estreitado. O último livro que li falava sobre cultura (Cultura – um conceito antropológico, Roque Laraia), o qual cita várias vezes, evidentemente não por acaso, o antropólogo Claude Lévi-Strauss. Ao ler o nome dele, sempre era remetido a canção “Estrangeiro” (porque esta o cita) que me remetia a Caetano, naturalmente. Aos mais desatentos devo parecer ter perdido a motivação que me levou a criar este blog, se observado o primeiro “post”, ou a primeira publicação. Mas se observarem continuo a buscar o assunto cultura(sendo cyber ou não). E não à toa me interessei em colocar na minha lista dois livros(Morte e vida Severina / Grande Sertão:Veredas) que retratam nossa cultura e que foram citados no Verdade, nas primeiras páginas.

“O amor é cego/ Ray Charles é cego / Stevie Wonder é cego/ E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem”.

Sempre achei esses versos engraçados, mas, como o escritor se trata de quem se trata, os rapazes, artistas e realmente cegos, não foram citados despretensiosamente. O nosso analista, não o Mahatma, mas o autonomeado Gandhi, após eu citar as citações do Verdade sobre Ray Charles, me explicou sobre a estética musical desses dois músicos e o marco que foram na música estadunidense. Confesso que ignoro muita coisa, isso mundialmente falando, talvez por confiar nas minha lentes pelas quais enxergo a conjuntura musical do planeta. Mais cedo ou mais tarde essas lentes me trazem as coisas que são boas e acho que essa é a grande "coisa" do Tropicalismo. Algo que parte do samba caymmiano e é capaz de absorver, digerir e devolver coisas como Billie Jean, bossanovizada por Caetano. Achei interessante quando cantarolei a canção incidental dessa versão de Billie Jean: “Tava jogando sinuca / Uma nega maluca me apareceu / Vinha com um filho no colo / E dizia pro povo / Que o filho era meu”, e meu pai comentou que se tratava de uma canção antiquíssima, de sua época de criança.

Mas, após esse rodeio em Itapoan, via Ribeira, volto ao café filosófico, regado à Malbec Seco (2 vezes mais encorpado..rs). Começamos com recitais de poesias de Manoel Bandeira, intercalados por comentários sobre sua obra e tendo como música de fundo, não por culpa minha, o disco “Uns”. Estávamos em três, quando chegou o quarto elemento acompanhado, muitíssimo bem, pela primeira e então única flor do café. Trouxeram-nos ninguém menos que Pablo Neruda, num book de bolso certamente comprado em alguma loja de conveniência bem conveniente. Alguém teve também a ideia de convidar um rapaz cuja incultura literária não permitira-me conhecer até então: Thiago de Mello. Parece com nome de jogado de futebol, mas trata-se de mais um bom poeta. Nos divertimos lendo as poesias que são intituladas pelos signos do zodíaco. A brincadeira era um recitar a poesia condizente ao signo do outro. A sobre escorpião teve tudo a ver, embora eu tenha desenvolvido certo ceticismo sobre essas coisas. Foi rico o exercício coletivo da expressão sentimental. O pai da turma ao usar sua emoção poética. O quarto elemento ao se desinibir com o violão. O anfitrião, feliz, demonstrando sua satisfação em realizar o encontro e forjando choros engraçados. Também eu, atento para não concorrermos com Maria Bethânia, a quem havia acabado de resgatar na estante de discos. Por fim, a flor que, gentilmente, participou daqueles momentos de amizade e contemplação à arte brasileira. Como consolo, ficou a promessa do café filosófico número dois.