sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Repare bem - parte II

Resolvi postar este comentário que fiz no blog Sbronka sobre o assunto das cotas....

Amigo Slomka,
Gostei muito do texto, concordo com quase tudo. Entretanto, quero contrapor alguns argumentos.
Você falou sobre a imigração polonesa, italiana, etc. Mas quero ressaltar que embora estes pudessem ter sido escravizados e discriminados por serem de suposta raça inferior em seus países de origem, eles chegaram numa situação diferente ao Brasil, onde, pelo que já li e ouvi em documentários de TV, muitos deles receberam terras e recursos para poderem trabalhar. De outro lado, os negros que outrora foram escravizados e vendidos por tribos africanas rivais aos colonizadores brasileiros chegaram e continuaram escravos até pouco mais de um século atrás(120 anos).

Concordo que se a educação pública, da pré-escola ao ensino médio, fosse de qualidade no mínimo boa não precisaríamos de cotas para “negros” nas Universidades. Mas também não há como negar que as pessoas que detiveram o poder nunca se importaram em garantir uma educação de qualidade para todos indiscriminadamente, pois estes eram quase sempre de classe média e alta e sempre tiveram dinheiro para colocar seus filhos em boas escolas. Acho muito engraçado quando escuto um amigo falar da injustiça que é ter sua chance de entrar na Universidade diminuída pelo sistema de cotas. Como se não fosse injusto dificultar o acesso de quem não tem grana à educação básica de qualidade. Cristovam Buarque está com projeto de lei(http://www.senado.gov.br/sf/atividade/Materia/detalhes.asp?p_cod_mate=82166) que obriga aos agentes públicos eleitos matricularem seus filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014. Eu iria além, todo funcionário público deveria ter seus filhos matriculados em escolas públicas. Por quê será que ninguém compra essa briga? Seria uma boa bandeira para os anti-cotas. Outras reflexões sobre o pós-abolição: Foram dadas terras aos escravos abolidos ou salários dignos pelo seu trabalho? Estes foram recebidos pela sociedade sem nenhum tipo de diferenciação? Tiveram acesso à educação formal ou tinham que trabalhar 14 ou 16 horas por dia?

Por fim, sofremos uma epidemia de analfabetismo funcional a qual as cotas para acesso as faculdades não remediarão. E este é um problema sobre o qual não vejo a classe média injustiçada pelas cotas reclamar com o mesmo vigor. Isto, talvez, por não afetá-la!

O que mais gosto na lei de cotas não é a própria lei, mas sim o fato de fazer levantarmos e pensarmos no assunto EDUCAÇÃO, até então pouco debatido. Só espero que saíamos deste debate racial e simplista e entremos num debate de projeto para o país, com cerne no direito universal a instrução(DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, Artigo XXVI )
Então, educação de qualidade à todos, brancos ou negros, pobres ou ricos!

Um abraço..

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Capital Narcisista e o Conhecimento Livre

O projeto Música Falada com Gilberto Gil, ontem dia 01/09/2009 no Teatro Castro Alves, foi praticamente uma aula! Para muitos que o conheciam apenas como o esteriotipado Gilberto Gil, foi uma surpresa sua abordagem sobre diversos problemas contemporâneos de forma tão poética e direta.

Depois de contar o ínicio de sua relação com a música sob o incentivo de sua mãe, de falar sobre seus anos de exílio, da sua trilogia(Refazenda, Refavela e Realce) inspirada na sétima arte, Gil foi perguntado sobre o que achava da pirataria. Gil disse achar natural esse movimento de democratização de conteúdos. Começou dizendo que hoje o Capital volta seus olhos para si mesmo, esquecendo que originalmente o seu foco deveria ser o setor produtivo e passando a ter como foco principal o setor financeiro. O Capital ficou vaidoso, um verdadeiro narcisista, segundo o cantor. Gil comentou sobre o fato das empresas quererem sempre cada vez mais, apenas para si. Diante de um novo mundo, as empresas teriam que se adequar, pois o compartilhamento e o acesso à informação nos seus mais diversos formatos é imenso e quase impossível de controlar. Houve um momento em que o discurso de Gilberto Gil me remeteu a questão do software livre, foi quando ele citou a possibilidade de cada pessoa criar seu próprio conteúdo com toda liberdade na blogsfera. Isso tem um link direto com o conceito do software livre, onde através de um conhecimento compartilhado eu posso gerar meu próprio conteúdo, ou meu próprio software, e compartilhá-lo para que outras pessoas o utilizem e colaborem para melhorá-lo.

Ele foi perguntado ainda sobre a sondagem de seu nome para uma possível chapa de candidatura a presidência da república, mas disse que não aceitaria. Enfim, foi uma noite regada a muita música, filosofia e política.